As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora
Pesquisa, Organização e Introdução:
Athos Eichler Cardoso
Senado Federal, 2002
22x31cm

Contato com o pesquisador:
[email protected]

A volta de Nhô-Quim e Zé Caipora
Artista ítalo-brasileiro também era jornalista que não temia os poderosos
 

A desilusão com os políticos é tão avassaladora que a maioria dos brasileiros, para não dizer a totalidade, simplesmente ignora a existência do Congresso Nacional. E com isso acaba se esquecendo que lá também existem e ocorrem coisas boas e importantes. Agráfica do Senado é um exemplo. E vamos ficar por aí.

Com trabalhos de alta qualidade, ela tem resgatado e publicado obras de grande valor. Agora, está nos brindando com uma jóia: o álbum de luxo As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora, de Angelo Agostini.

A pesquisa, organização e introdução é de Athos Eichler Cardoso. O trabalho sobre os primeiros quadrinhos brasileiros abrange o período de 1869 a 1883. As imagens foram digitalizadas diretamente dos originais das revistas Vida Fluminense, O Malho e Don Quixote.
Jornalista mais popular do século 19, Ângelo Agostini destacou-se, como ressalta a mensagem do editor, pelo desenho, pela ilustração, pela pintura e pelas caricaturas do regime escravagista, não poupando nem o próprio imperador. Ou seja, diante de tanta sabujice como se vê hoje em dia, era jornalistas dos bons: descia a ronca mesmo nos poderosos de plantão.

Em litografia, Agostini desenhou as duas histórias em quadrinhos apontadas como as primeiras de longa duração publicadas no Brasil, listadas, também, entre as pioneiras do âmbito mundial.

De fato. A respeito, o jornalista Sérgio Augusto, no Estadão do dia 22 de junho deste ano, lembra que, "para os puristas, narrativa ilustrada sem balões é pré ou proto-história em quadrinhos, não mais do que isso. Se tivessem balões, as aventuras (ou desventuras) de Nhô-Quim teriam antecipado de quase 30 anos a indiscutível matriz do gênero, o Menino Amarelo, do americano Richard F. Outcault, e consagrado Agostini como o inventor do gibi".

Nascido em Vercelli, Piemont, Itália, em 1843, Agostini desembarcou, gostou e se tornou brasileiro em 1888, já pegando briga a favor dos abolicionistas. Tinha 16 anos. Passou a infância e adolescência em Paris, onde aprendeu a desenhar na Escola de Belas Artes. Esteve em São Paulo e foi para o Rio, em 1867, onde criou jornais e iniciou a carreira de caricaturista e editor na Vida Fluminense, que ainda se chamava O Arlequim. Dirigiu na mesma época O Mosquito. Seu maior feito editorial, no entanto, como destaca Sérgio Augusto, foi a fundação da Revista Ilustrada, em 1876, "que durante 12 anos comandou galhardamente, submetendo todos os grandes acontecimentos políticos e sociais do período ao seu imenso talento".

E por aí foi. Colaborou com Tico-Tico, a primeira publicação infantil brasileira, lançada pela revista O Malho. O desenho do título - logotipo – é de sua autoria. Sérgio Augusto ressalta ainda que a Índia Inaia, a primeira heroína dos gibis brasileiros, tinha sangue tupi-guarani.

A álbum Nhô-Quim e Zé Caipora (caipora significa originalmente azarento) é um tesouro não apenas para quem gosta e/ou estuda gibi, mas também para quem adora mergulhar na história – não oficial – do país. Nesse ponto, a imprensa é a ferramenta mais adequada. Ou já foi. Naquele tempo era, com certeza, e graças a profissionais da cepa deste italiano simplesmente genial.

Ah, o álbum custa R$ 50. Uma pechincha pela sua importância.

Serviço: As Aventuras de Nhô-Quim e Zé Caipora, 188 páginas, edição de luxo.
Conselho Editorial do Senado Federal
Praça dos Três Poderes s/nª - CEP 70168-970 - Brasília - DF. [email protected]

Gazeta do Povo - 23/09/02 - Francisco Camargo - CadernoG