Documentário,
Realidade e
Semiose:

os sistemas
audiovisuais
como fontes de
conhecimento

autor: Hélio Godoy
Editora Annablume e FAPESP
São Paulo
314 páginas
março de 2002

 

RESUMO: 

            Neste trabalho, Hélio Godoy apresenta-nos uma pesquisa instigante e original: a revisão da categoria complexa do realismo a partir de novas matrizes filosóficas (Uexküll e o universo subjetivo; a semiótica e a teoria do conhecimento peirceanos; o cognitivismo). Ressalte-se também a contribuição do autor na revisão bibliográfica, fazendo um balanço das teorias formativas (Bazin, Krakauer, Arheim, Eisenstein, Munsterberg, Metz, Baudry etc.). Uma nova teoria realista do documentário torna-se, então, possível, restituindo e fundamentando seu potencial como forma legítima de investigação a respeito da realidade do mundo.

 

DESENVOLVIMENTO:

A tradição da reflexão teórica sobre o cinema voltou-se muito mais ao filme ficcional, e tenta tirar desse tipo de filme as generalizações que expliquem inclusive o documentário. Assim, o sentimento de que o documentário é um instrumento legítimo para a investigação da realidade, dificilmente é compreendido através dessas formulações, que visam muito mais, compreender o sentido da criação no filme ficcional, do que o sentido da descoberta no filme documentário.

Neste livro é proposta uma Nova Teoria Realista do Documentário, com o objetivo de restituir e fundamentar o potencial investigativo do documentário. Uma análise das tecnologias óptico-químicas e eletrônicas, analógicas e digitais, é desenvolvida demonstrando-se sua adequação semiótica à representação da realidade. São considerados como pressupostos paradigmáticos: a Semiótica de C.S.Peirce, a Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll e a Teoria da Amostragem, no âmbito da Teoria Matemática da Informação de Shannon e Weaver. Estes pressupostos servem de ponto de partida para uma reafirmação da capacidade investigativa observada na Tradição Documentária.

O uso de imagens como fontes de produção de conhecimento científico já podiam ser observadas com a utilização de fotografias desde o final do século passado e de películas cinematográficas desde o começo deste século. Particular interesse pela imagem é percebido nos trabalhos de fisiologia do movimento de E.J. Marey com sua cronofotografia; ou nos estudos geográficos e geológicos desenvolvidos à partir de aerofotografias. O filme tem sido usado pela Antropologia desde os primórdios do cinema. E desde o advento do microscópio eletrônico na década de 50, a fotografia era o principal suporte da imagem fugaz da célula, obtida na tela fluorescente desse equipamento.

Todavia deve ficar bem claro que a atividade documentária não pode estar baseada em uma pretensa neutralidade, ela deve ser crítica diante de seu próprio fazer; pois, por ser uma atividade humana pode se contaminar com os valores culturais e ideológicos de quem a desenvolve; e neste sentido uma discussão ética se apresenta como necessária no desenvolvimento do método.

Dessa forma, é necessário um questionamento profundo de uma certa concepção teórica cinematográfica que insiste na impossibilidade de conhecimento através do documentário porque ele é ilusório; e que, por ser apenas um fenômeno de linguagem, analisa-o como um tipo de discurso ficcional sobre a Realidade. Ora, os conceitos científicos também são externados através de discursos, mas o que os diferenciam dos discursos ficcionais é que existe um processo mental, consciente e coerente, de investigação dos fenômenos reais, que permitiram a descoberta desses conceitos.

            A hipótese dos sistemas audiovisuais como instrumentos capazes de promover o conhecimento da Realidade, através do método documentário, identifica-se com o surgimento de novos paradigmas que vem se apresentando frente ao pensamento científico desde o começo deste século, quando os estudos de física quântica começaram a trazer questionamentos ao pensamento newtoniano e cartesiano sobre a natureza.

            A revisão do método científico, permitida por análises filosóficas como as de Charles Sanders Peirce, possibilita o levantamento da hipótese do fazer documentário, enquanto uma atitude produtora de conhecimento. Não somente do ponto de vista do dispositivo tecnológico que revelaria fenômenos não observados pelo ser humano, mas também pelo processo de participação investigativa no próprio fenômeno que se pretende conhecer.

            Para se chegar a tal idéia a respeito do documentário, é necessário percorrer uma trajetória de verificação da incidência das concepções Realistas na produção documentária. Em um primeiro momento, conhecer em que sentido o Realismo é considerado pelos teóricos da Teoria Cinematográfica; isto é feito no Capítulo 2 - "Teoria Cinematográfica e Realismo Documentário".

            Nessa trajetória em busca do Realismo Documentário é necessária uma definição de Realismo que seja coerente com a possibilidade do Conhecimento; isto é desenvolvido no Capítulo 3 - "Conhecimento e Realidade". Neste capítulo é possível encontrar-se os fundamentos que compõe o Paradigma de uma Teoria Realista do Documentário, quais sejam: A Teoria da Realidade C.S. Peirce no Item 3.1 - "A Metafísica Peirceana"; a Teoria do Umwelt de Uexküll no Item 3.2 - "Universos Subjetivos: a Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll"; uma análise de aspectos biológicos e tecnológicos da Dilatação do Umwelt Humano, no Item 3.3 - "Evolução Humana, Dilatação do Umwelt e Próteses Audiovisuais"; e por fim a afirmação da possibilidade de conhecimento da Realidade através dos sistemas audiovisuais apoiada na Lógica de Boole e na Teoria da Amostragem no âmbito da Teoria da Informação de Shannon, no Item 3.4 - "Realismo e a Tecnologia Audiovisual Analógica e Digital".

            A finalização dessa trajetória é feita observando nos casos concretos, existentes na história recente do documentário, quais os fatos que atestam a coerência do Paradigma fundamentado no Capítulo 3. Assim, no Capítulo 4 - "Realidade e Documentário" são apresentados os casos de documentários e documentaristas existentes (reais) que auxiliam a compreensão de como este Paradigma pode ser validado.

            No derradeiro Capítulo 5 - "Conclusão", apresentam-se as possíveis consequências de um Realismo Documentário, bem como, apontam-se novas linhas de investigação para o aprimoramento desta Teoria Realista do Documentário.

 


Lançamento como parte da programação do
Festival "É Tudo Verdade"

 
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Dia 19/04 às 19 hs