RESUMO:
Neste trabalho, Hélio Godoy apresenta-nos uma pesquisa instigante
e original: a revisão da categoria complexa do realismo a partir de novas
matrizes filosóficas (Uexküll e o universo subjetivo; a semiótica e a
teoria do conhecimento peirceanos; o cognitivismo). Ressalte-se também a
contribuição do autor na revisão bibliográfica, fazendo um balanço
das teorias formativas (Bazin, Krakauer, Arheim, Eisenstein, Munsterberg,
Metz, Baudry etc.). Uma nova teoria realista do documentário torna-se,
então, possível, restituindo e fundamentando seu potencial como forma
legítima de investigação a respeito da realidade do mundo.
DESENVOLVIMENTO:
A
tradição da reflexão teórica sobre o cinema voltou-se muito mais ao
filme ficcional, e tenta tirar desse tipo de filme as generalizações que
expliquem inclusive o documentário. Assim, o sentimento de que o documentário
é um instrumento legítimo para a investigação da realidade,
dificilmente é compreendido através dessas formulações, que visam
muito mais, compreender o sentido da criação no filme ficcional, do que
o sentido da descoberta no filme documentário.
Neste
livro é proposta uma Nova Teoria Realista do Documentário, com o
objetivo de restituir e fundamentar o potencial investigativo do documentário.
Uma análise das tecnologias óptico-químicas e eletrônicas, analógicas
e digitais, é desenvolvida demonstrando-se sua adequação semiótica à
representação da realidade. São considerados como pressupostos paradigmáticos:
a Semiótica de C.S.Peirce, a Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll e a
Teoria da Amostragem, no âmbito da Teoria Matemática da Informação de
Shannon e Weaver. Estes pressupostos servem de ponto de partida para uma
reafirmação da capacidade investigativa observada na Tradição Documentária.
O
uso de imagens como fontes de produção de conhecimento científico já
podiam ser observadas com a utilização de fotografias desde o final do século
passado e de películas cinematográficas desde o começo deste século.
Particular interesse pela imagem é percebido nos trabalhos de fisiologia
do movimento de E.J. Marey com sua cronofotografia; ou nos estudos geográficos
e geológicos desenvolvidos à partir de aerofotografias. O filme tem sido
usado pela Antropologia desde os primórdios do cinema. E desde o advento
do microscópio eletrônico na década de 50, a fotografia era o principal
suporte da imagem fugaz da célula, obtida na tela fluorescente desse
equipamento.
Todavia
deve ficar bem claro que a atividade documentária não pode estar baseada
em uma pretensa neutralidade, ela deve ser crítica diante de seu próprio
fazer; pois, por ser uma atividade humana pode se contaminar com os
valores culturais e ideológicos de quem a desenvolve; e neste sentido uma
discussão ética se apresenta como necessária no desenvolvimento do método.
Dessa
forma, é necessário um questionamento profundo de uma certa concepção
teórica cinematográfica que insiste na impossibilidade de conhecimento
através do documentário porque ele é ilusório; e que, por ser apenas
um fenômeno de linguagem, analisa-o como um tipo de discurso ficcional
sobre a Realidade. Ora, os conceitos científicos também são externados
através de discursos, mas o que os diferenciam dos discursos ficcionais
é que existe um processo mental, consciente e coerente, de investigação
dos fenômenos reais, que permitiram a descoberta desses conceitos.
A hipótese dos sistemas audiovisuais como instrumentos capazes de
promover o conhecimento da Realidade, através do método documentário,
identifica-se com o surgimento de novos paradigmas que vem se apresentando
frente ao pensamento científico desde o começo deste século, quando os
estudos de física quântica começaram a trazer questionamentos ao
pensamento newtoniano e cartesiano sobre a natureza.
A revisão do método científico, permitida por análises filosóficas
como as de Charles Sanders Peirce, possibilita o levantamento da hipótese
do fazer documentário, enquanto uma atitude produtora de conhecimento. Não
somente do ponto de vista do dispositivo tecnológico que revelaria fenômenos
não observados pelo ser humano, mas também pelo processo de participação
investigativa no próprio fenômeno que se pretende conhecer.
Para se chegar a tal idéia a respeito do documentário, é necessário
percorrer uma trajetória de verificação da incidência das concepções
Realistas na produção documentária. Em um primeiro momento, conhecer em
que sentido o Realismo é considerado pelos teóricos da Teoria Cinematográfica;
isto é feito no Capítulo 2 -
"Teoria Cinematográfica e Realismo Documentário".
Nessa trajetória em busca do Realismo Documentário é necessária
uma definição de Realismo que seja coerente com a possibilidade do
Conhecimento; isto é desenvolvido no Capítulo
3 - "Conhecimento e Realidade". Neste capítulo é possível
encontrar-se os fundamentos que compõe o Paradigma de uma Teoria Realista
do Documentário, quais sejam: A Teoria da Realidade C.S. Peirce no Item
3.1 - "A Metafísica Peirceana"; a Teoria do Umwelt de Uexküll
no Item 3.2 - "Universos
Subjetivos: a Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll"; uma análise
de aspectos biológicos e tecnológicos da Dilatação do Umwelt Humano,
no Item 3.3 - "Evolução
Humana, Dilatação do Umwelt e Próteses Audiovisuais"; e por
fim a afirmação da possibilidade de conhecimento da Realidade através
dos sistemas audiovisuais apoiada na Lógica de Boole e na Teoria da
Amostragem no âmbito da Teoria da Informação de Shannon, no Item
3.4 - "Realismo e a Tecnologia Audiovisual Analógica e Digital".
A finalização dessa trajetória é feita observando nos casos
concretos, existentes na história recente do documentário, quais os
fatos que atestam a coerência do Paradigma fundamentado no Capítulo 3.
Assim, no Capítulo 4 -
"Realidade e Documentário" são apresentados os casos de
documentários e documentaristas existentes (reais) que auxiliam a
compreensão de como este Paradigma pode ser validado.
No derradeiro Capítulo 5 -
"Conclusão", apresentam-se as possíveis consequências de
um Realismo Documentário, bem como, apontam-se novas linhas de investigação
para o aprimoramento desta Teoria Realista do Documentário.
Lançamento como parte da programação do Festival "É Tudo
Verdade"
Livraria Espaço Unibanco de Cinema
Rua augusta 1475, Cerqueira César São Paulo SP
Dia 19/04 às 19 hs