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Um músico extraordinário
Luís
Nassif
Waltel Branco é o
derradeiro integrante de uma seleção brasileira de
maestros, contratados da Rede Globo, que tinha em Radamés
Gnatalli o Pelé. Quando se decidir a divulgar Waltel, é
possível que se descubra um dos mais célebres músicos anônimos
do país.
Waltel nasceu em Paranaguá em 22 de novembro de 1929. Seu
primeiro professor foi o pai Ismael Helmuth Scholtz
Branco, saxofonista e clarinetista. Quando o conheci, me
passou a nítida impressão de ser mulato. Na foto do
livro (A Desconstrução da Música na Cultura Paranaense
de Manoel de Souza Neto), parece mulato. Mas é neto de
alemães legítimos.
Uma gravação com o acordeonista italiano Cláudio
Todisco, nos estúdios da Odeon, permitiu-lhe conhecer o
maestro Radamés Gnatalli. Não levou muito tempo para
ser convocado para tocar com o mestre. Depois, passou a
ter aulas de regência com dois outros maestros históricos,
Alceu Bocchino e Mário Tavares. Conseguiu ser o maestro
que ensaiou a orquestra nos concertos de Stranvinsky no
Rio de Janeiro.
Aos 20 anos, rumou para Illinois, EUA, atrás de aulas
com o guitarrista Sal Salvador, que tocava com Nat
King Cole. Dava aulas de violão clássico para
sustentar o aprendizado de jazz. Chegou a tocar em um
trio com Nat King Cole, além de ter produzido o disco
de seu irmão Fred Cole e, mais tarde, o de Natalie
Cole, filha de Nat.
Depois, participou de um trio com o baterista Chico
Hamilton. Nesse período, conheceu Peggy Lee,
cantora que se casou com o maestro Quincy Jones.
Waltel se casou com a irmã de Peggy, Lede
Saint-Clair Branco, tornando-se, por força do
casamento, co-cunhado de Quincy Jones. Com ele tocou
muito jazz e música clássica e conheceu o maestro
Henry Mancini.
Na época, Mancini promovera uma revolução nos
direitos autorais. Até então, os direitos eram
todos dos estúdios. Quando sobreveio a crise dos
estúdios, aceitou fazer trilhas sonoras para a
nova produção, com a condição de ser o titular
dos direitos. Estourou na primeira trilha, para o
seriado de TV "Peter Gunn". Ao lado de
outros pioneiros, como o argentino Lallo
Schiffrin, montou um escritório para atender à
nova demanda. Assim que ouviu nosso Waltel tocar,
contratou-o. E foi nessa condição que Waltel
tornou-se o arranjador de uma das mais famosas
trilhas sonoras da história do cinema, do filme
"A Pantera Cor de Rosa".
De volta ao Rio, Waltel pegou o início da bossa
nova. Fez todos os arranjos do "Chega de
Saudades", de João Gilberto, seguindo o método
peculiar do violonista. João Gilberto o
chamava, mostrava a harmonia que desenvolvera ao
violão, e Waltel a seguia para o arranjo, como
se cada instrumento seguisse uma corda. Depois
gravou dois discos solos, "Guitarra em
Chamas 1 e 2", tendo como acompanhador o
violão de Baden Powell.
Em 1963, nos EUA, conheceu o jornalista
Roberto Marinho, que o convidou a ser crítico
musical do jornal "O Globo". Quando
foi constituída a TV Globo, Waltel foi
contratado, indo compor um time de primeiríssima,
com Radamés, Guerra Peixe e Guio de Moraes.
Compôs e dirigiu as trilhas sonoras, entre
outras, de "O Bem Amado",
"Roque Santeiro" e "Morte e
Vida Severina".
Tempos depois, o chileno Zamacois, que ele
conhecera em seus tempos no seminário de
Curitiba, convidou-o a ir para a Espanha. Lá,
estudou mais harmonia e técnicas de violão,
venceu o concurso da Rádio Difusora
Francesa e, como prêmio, ganhou uma bolsa
para estudar com Andrés Segóvia, o maior
violonista clássico do século. Fã de Segóvia,
que tocava desde criança, Waltel se
lembrava de peças das quais o próprio
mestre se esquecera. Em vez de aulas, passou
a tocar junto com Segovia.
Tempos atrás, seu amigo Fidel Castro
ficou chateado com o "Buena Vista
Social Club" de Win Winders, por suas
distorções musicais, e incumbiu o
maestro Leo Brower (adido cultural da
diplomacia cubana e o compositor para violão
clássico mais prestigiado da atualidade)
de providenciar uma nova versão, mais autêntica.
Quem Brower convoca para a empreitada?
Entre outros, Waltel Branco.
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