NAS ASAS DO CORREIO AÉREO 
Um avião dos anos 40 refaz hoje a rota dos pilotos do 
Correio Aéreo Nacional
 
 

O livro Nas asas do Correio Aéreo, que está sendo lançado pela Metalivros dia 2 dezembro, é feito de sonhos. Os sonhos de Isio Bacaleinik - um homem do século XXI que cruzou o país a bordo de um avião de 1940, por amor à liberdade de voar e pela vontade de desvendar para o público as maravilhas insuspeitas deste vôo old fashioned, sem cabine, vento no rosto, coração aventureiro. E assim revelar os sonhos dos pilotos do Correio Aéreo Nacional que, nos anos 30, acreditavam mais na paz do que na guerra, na integração do País, nos ideais do tenentismo e na visão de um Brasil unido e forte.

Ali estão os sonhos do jovem fotógrafo Lalo de Almeida, interessado há tempos nas imagens mais autênticas do Brasil e que mergulhou de cabeça no registro originalíssimo de uma vasta região brasileira. E da jornalista Tania Carvalho, que caminhou pelo país, mochila nas costas, resgatando muito da vida e dos feitos desses bandeirantes do século XX - e parte da vida de seus pais, que se comunicavam nos anos 30 pelas asas do CAN.

 Refazer com um avião muito semelhante aos usados pelos pilotos do Correio Aéreo Nacional, na rota que ia do Rio de Janeiro ao Pará, levou 40 dias, numa cuidadosa estratégia que procurou capturar o maior número possível de imagens. Neste percurso, Lalo de Almeida fez mais de 10 mil fotos em cerca de 150 horas de vôo a bordo de dois aviões – um deles, o poderoso e encantador Stearman, fabricado em 1941 para a marinha dos EUA e usado na Segunda Guerra como aeronave de treinamento.

 A equipe reconstituiu os caminhos dos novos bandeirantes liderados por Eduardo Gomes - homens idealistas, até hoje lembrados como heróis nas cidades por onde passavam levando e trazendo correspondência, medicamentos e até doentes graves. Mas principalmente como os criadores da mais importante rede de comunicação no interior de 1931 até os anos 60.

A base de trabalho do livro, o resultado da aventura, foram 18.000 fotos, 300 horas voadas, 51.000 quilômetros percorridos (a Terra tem 40.000 quilômetros de circunferência), 14.000 litros de combustível usados e mais de 100 dias no ar. Nas Asas do Correio Aéreo está sendo lançado na segunda-feira, dia 2 de dezembro, às 19h, no Sesc Pompéia (Rua Clélia, 93 – Água Branca), em São Paulo. Neste dia será aberta ao público uma exposição que reúne  40 fotos, amostra luxuosa das 300 imagens que estão no livro.

A Rota

O Correio Aéreo Militar foi criado em 1931 e dez anos mais tarde passou a ser chamado de Correio Aéreo Nacional, o CAN, nome pelo qual ficou conhecido em todo o Brasil e é lembrado até hoje. Todos os vôos partiam do Rio de Janeiro e muitas rotas eram percorridas por seus pilotos – sendo a Rota do Tocantins a mais importante delas. Para refazer esse trajeto e contar a história desses aviadores, fundamentais para o Brasil Central, tomou-se por base o  livro Roteiro do Tocantins, escrito pelo tenente Lysias Rodrigues em 1931. O livro de Lysias descreve a epopéia que foi a abertura da rota, e o primeiro vôo, realizado em 14 de novembro de 1935, do Rio de Janeiro ao Pará, passando por Luziânia, Formosa, Cavalcante, Peixe, Paranã, Porto Nacional, Tocantínia, Pedro Afonso, Carolina, Tocantinópolis, Imperatriz, Marabá,  Tucuruí, Baião, Cametá e Belém.

O projeto inicial, que resultou no livro Nas Asas do Correio Aéreo foi estrategicamente dividido em três grandes etapas. Na primeira, Tania Carvalho, junto com o piloto Tadeu Gobbi, pousou em todas cidades da Rota buscando a memória do CAN em livros, depoimentos e, principalmente, na lembrança das pessoas. A maioria delas trouxe de volta nomes, datas e fatos, como se até hoje os pilotos do CAN ainda por lá pousassem. E assim provaram que a história estava viva e merecia ser contada.  O  fotógrafo Lalo de Almeida iniciou, a seguir, sua primeira rodada de captura de imagens: um mês a bordo do Maule (um monomotor), mostrando a visão que os pilotos da época do CAN tinham do Brasil - tanto do ar, quanto das pequenas cidades por onde passavam, pernoitavam e mantinham estreitas relações com as comunidades. São desta etapa visões de tirar o fôlego como as de Chapada dos Veadeiros. Mais importante ainda, Lalo de Almeida e o piloto Tadeu Gobbi prepararam-se para a terceira  e mais decisiva fase da aventura: refazer, a bordo do Stearman, com apoio de um segundo avião, o Maule, a Rota do Tocantins.

O piloto Isio Bacaleinick, o grande idealizador do projeto, decolou do Campo dos Afonsos, no bairro de Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, onde funcionava a Escola de Aviação, nos anos 30 e fez diversos vôos pela cidade, de onde partiam todos os aviões do CAN. Essa foi a introdução da viagem, feita em abril. Sair pelo Brasil afora aconteceu mesmo em junho, numa operação quase de guerra, que exigiu muitas vezes o apoio da FAB.Viajar pelo Brasil Central, seguir uma grande distância com o Stearman implicou numa extensa e constante atenção estratégica, já que a autonomia de vôo do belo aviãozinho vermelho é de duas horas e meia e as peças de reposição não mais existem. Houve momentos de desespero e de improviso, com pequenos acidentes e soluções quase milagrosas.

Lalo ficou preso por correias de alpinismo a um banco transversal - desenvolvido para a aventura  - no Maule, que viajou todo o tempo sem as portas traseiras. De lá, com frio e vento no rosto e equipamento sempre prestes a cair no vazio, ele fotografou o trajeto do belo Stearman – pilotado por Isio - pelas paisagens do Brasil – as chapadas de Goiás, o deserto do Tocantins, as cachoeiras do Pará, o Rio Tocantins em toda a sua majestade. A aventura contou com apoio indispensável da Aeronáutica, em especial na passagem do Stearman pelo maior cartão postal do Rio de Janeiro – o Cristo Redentor, quando foi usado como apoio um helicóptero Puma, da FAB e na chegada em Belém, quando o vermelhinho sobrevoou o Ver-O-Peso e a parte mais antiga da capital paraense.

>>>>>  Clique aqui para adquirir o livro