ARQUIVO

História do Cinema:

O Aparecimento do Som, parte 1

O Aparecimento do Som, parte 2

O Aparecimento do Som, parte 3

 

 

 






História do cinema
O Aparecimento do Som - Parte 1


 The Jazz Singer

No dia 6 de outubro de 1927 a Warner lançou, em Nova York, seu mais recente filme: The Jazz Singer. A partir desta data iniciou-se uma revolução que modificou toda a indústria cinematográfica. O filme, segundo os críticos, não tinha nada de excepcional, mas o que causou sensação na platéia foi ouvir o ator Al Jolson dizer a primeira fala do cinema: “ Espere, que você não ouviu nada ainda!”.

Desde o começo, sempre existiu som no cinema. Mesmo os filmes mudos tinham acompanhamento musical. O que faltava mesmo era a voz humana em perfeita sincronia com a imagem da tela. Muito experimentos foram feitos antes de 1927, inclusive pelos Irmãos Lumière e Thomas Edison, só que todas as soluções eram muito complicadas e não tinham aplicação comercial.

Por algum tempo a Europa liderou estas pesquisas, e se não tivesse sido a Primeira Guerra Mundial, o filme falado como forma de entretenimento poderia ter sido uma invenção européia. Que efeito isto poderia ter causado em Hollywood é difícil prever. Provavelmente muito pequeno porque os Estados Unidos sempre estiveram dispostos a explorar o lado comercial de seus filmes e dar ao público o que eles queriam assistir (não necessariamente arte).

A principal motivação da Warner nesta iniciativa pioneira não era lá muito nobre: crise financeira. Ao contrário de seus concorrentes, o estúdio não tinha investido em salas de exibição próprias, e seus filmes acabavam sendo exibidos em circuitos pequenos, gerando, logicamente, dificuldades de caixa. Sendo assim, a Warner comprou a Vitagraph Company e sua pequena rede de 34 cinemas e utilizando aparelhagem da Western Eletric, que há alguns anos vinha pesquisando o assunto, iniciou a introdução do som.

Sam sempre foi o mais visionário dos quatro irmãos Warner. Inicialmente, Harry, Albert e Jack tinham sua atenção voltada apenas para a música. E foi a música que levou à aquisição do Vitaphone System, que permitia a sincronia do som com a imagem e foi vital para a introdução, tempos depois, da voz humana.Jack Warner recorda em sua autobiografia Sam dizendo: “Lembre-se, os atores podem falar também”. Ao que Harry responde: “ Para que diabos alguém quer ouvir um ator falar?” 

Não foi por acaso também que em 1926 os filmes mudos sofreram seu primeiro baque: o rádio. Em 15 de novembro deste ano, a transmissão da luta de Jack Dempsey-Genne Tuney teve audiência de 50 milhões de ouvintes. Fatos como estes começaram a alertar os estúdios sobre a importância do som. Em fevererio de 1927 as cinco mais importantes companhias - MGM, Universal, First Nacional, Paramount e Producers Distributing Corporation resolveram, em conjunto, esperar para ver o que ia acontecer. Esta solução foi estabelecida porque existiam muitos sistemas de som disponíveis no mercado e havia insegurança sobre o que iria acontecer. Fora a Warner, que tinha direitos exclusivos do Vitaphone, apenas a Fox estava disposta a investir em som.
                                                                                                                              
(continua)

volta para cima

O Aparecimento do Som - Parte 2

Fox, ambicioso e com muito dinheiro, comprou os direitos de um sistema de som concorrente e deu-lhe o nome de Movietone. Seu primeiro projeto foi um documentário de quatro minutos mostrando os cadetes de West Point marchando.

Mas foram os Warners que fizeram a diferença. Eles estavam com dificuldades financeiras e sempre tinham que levantar mais dinheiro para cobrir suas dívidas. Só que eles formaram uma companhia jovem e que procurava por coisas novas. A Warner tinha a obrigação de criar algo incomum e importante para ser reconhecida.

The Jazz Singer acabou sendo a escolha incomum e importante, embora coberta de riscos. Naquele tempo, estruturar um cinema com equipamento de som custava mais que 25.000 dólares, e ao final de 1927, apenas 200 cinemas americanos o possuíam. Fora isto, apesar dos esforços e considerável sucesso que os 100 curtas produzidos pelo Vitaphone geraram, a Warner estava no vermelho quando iniciaram a sua produção.

The Jazz Singer havia sido uma peça de grande sucesso estrelado por George Jessel, e a Warner comprou seus direitos por 30.000 dólares. Inicialmente Jessel foi convidado para viver o personagem também no cinema, mas como não chegou a um acordo financeiro satisfatório, o papel acabou parando nas mãos de Al Jolson, que era um dos astros da época. Foram quatro meses de filmagem, a um custo, razoável para o tempo, de 500.000 dólares. Na verdade, este filme possuía apenas quatro segmentos falados (nos quais Jolson cantava) e o restante da fita era ausente de diálogos.

No dia da estréia a platéia viveu momentos de êxtase, aplaudindo o filme constantemente, principalmente nas partes faladas. Infelizmente Sam Warner, que tornou tudo possível, não pôde estar presente. No dia anterior ele morreu em um hospital da Califórnia vitima de hemorragia cerebral. Seus irmãos também não compareceram à estréia porque queriam estar com o Sam antes de sua morte.

O sucesso do filme foi assunto da imprensa por dias. Entre os muitos artigos escritos, um em particular, escrito por Welford Beaton, no The Film Spectator chama a atenção: “The Jazz Singer é a mostra definitiva de que os filmes falados vieram para ficar. Todos em Hollywood podem se rebelar, mas devem estar cientes que nada vai alterar este fato. E se eu fosse um ator com uma voz esganiçada estaria preocupado”.

Bem, atores e atrizes com vozes, digamos não agradáveis, realmente deveriam começar a se preocupar e com uma boa causa por trás. Mas porque Hollywood se rebelaria pelo fato dos filmes falados serem um fato consumado? 

(continua)
volta para cima

O Aparecimento do Som - Parte 3

Simplesmente porque Hollywood não queria. Primeiro, as grandes companhias que possuíam redes de cinemas teriam despesas imensas para adaptá-los ao som. Segundo, os estúdios em que eram feitos os filmes mudos teriam que ser remodelados. Pior ainda: o que fazer com os filmes mudos ainda não lançados e que futuro eles teriam se o público começasse a exigir o som? Por fim, e talvez mais importante do que tudo que foi dito, existia a perda do lucrativo mercado estrangeiro. O filme mudo era universal, sem nacionalidade. E um filme falado só poderia ser exibido em lugares em que se compreendesse a língua do país de origem.

Mas quando The Jazz Singer começou a abrir um novo caminho para o futuro, os oponentes desta nova tecnologia receberam apoio irrestrito dos intelectuais na época. Até Eisenstein tinha dúvidas sobre a inovação, dúvidas que eram defendidas pelo crítico e produtor inglês Paul Rotha: “Filmes com som são lamentáveis e prejudiciais para a cultura popular”. Bem, na verdade, o que ele queria mesmo dizer é que o único objetivo dos produtores é retorno financeiro e fazer as reformas necessárias custariam aos outros estúdios algo em torno de 40 milhões de dólares (entre junho de 1928 e final de 1929 a indústria gastou 37 milhões de dólares neste trabalho)

Com o passar do tempo, os ataques duvidosos acabaram sendo vencidos pelos fatos. Em janeiro de 1928, a Warner colocou um anúncio de página inteira na Variety dizendo que os filmes falados estavam levando um milhão de pessoas ao cinema por semana. Esta era a informação que faltava. Até então o estúdio ainda estava tímido em suas apostas. Em novembro de 1927, a Warner anunciou que suas novas produções seriam compostas de 26 filmes mudos e 12 falados. Obviamente, apesar do sucesso, eles ainda não podiam afirmar se tudo não passava de um modismo e nem sabiam também se a platéia suportaria assistir a um filme inteiro falado. 

As dúvidas terminaram quando, em julho de 1928, foi lançado The Lights of New York, um filme de gangster quase medíocre, mas que entrou para história por ser o primeiro filme realmente falado do começo ao fim e a platéia gostou dele exatamente por causa disto. Mais uma vez a Warner estava na frente, mas seus concorrentes não estavam mais tão atrás. Logo em seguida a Paramount lançou Interference, também inteiramente falado. O som, a partir de então, passou a ser fato, e a revolução iniciada em 6 de outubro de 1927 estava completa.

O som, como vimos até agora, acrescentou uma nova dimensão ao filme, mas, por outro lado, tirou outra: o movimento. Ignorando-se o fato que os primeiros filmes falados tinham atuações sofríveis e textos mal declamados, eles eram extremamente estáticos, e o problema estava no modo como eram confeccionados.
volta para cima