De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas,
mas a resposta que dá às nossas perguntas.
(Italo Calvino, em As Cidades Invisíveis)

O catálogo AMargem, trabalho de graduação de Danielle Sfredo da Rocha e Diego Felipe Costa, foi desenvolvido a partir de um ensaio fotográfico que propõe um novo olhar sobre a cidade de Curitiba. Na busca de uma suposta essência ou de uma diferença fundamental entre alguns espaços que compõem este centro urbano, eles acabaram colocando em prática (e em imagens) um apurado exercício visual que constrói novos invólucros simbólicos para uma paisagem que vem sendo gradualmente homogeneizada tanto pela mídia quanto pela indústria do turismo.

 A preocupação em romper condicionamentos está explicitada no próprio título. A palavra margem, entre outras designações possíveis, também pode significar “espaço livre, de tempo ou lugar”. Aquela Curitiba que tão bem distinguimos à distância, que nos parece verossímil, aparece agora dissolvida em planos próximos, em angulações distorcidas e em enquadramentos ambíguos que parecem revelar mais justamente por ocultarem aquilo que é óbvio. Da mesma forma, o registro dos lugares aqui selecionados não obedece a uma cronologia temporal. O virar das páginas deste catálogo parecem fazer referência a esta sucessão de épocas sobrepostas, das camadas que os anos foram acrescentado aqui e ali e transformando, sem que nos déssemos conta, o que era presente em passado.

 Para melhor participar do jogo de percepções proposto pelos autores, nada melhor do habitar esta cidade e poder constatar que Curitiba é um terreno a ser explorado. Se as fotos aqui expostas causam surpresa é porque ainda não foi possível conhecer sua totalidade. A tarefa de evidenciar o que está à margem é uma forma de compreender os detalhes que compõem este ambiente orgânico e sistêmico que nos cerca. E é a consciência destes fragmentos que nos conduzirá ao entendimento da cidade, qualquer cidade, como algo que vai além da simples aparência. Que tem vida. E visibilidade.

 Tom Lisboa